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3/SÉRIE E/M e 3/TERMO EJA |
DISCIPLINA: FILOSOFIA |
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CONTEÚDOS: Núcleo Específico O que é
Filosofia - Superação de preconceitos em relação à Filosofia e definição e
importância para a cidadania O homem
como ser de natureza e de linguagem Leitura e Análise
de Texto Preconceito e
Filosofia Se fizermos uma rápida pesquisa
com as pessoas à nossa volta, indagando o que elas pensam da Filosofia, muito
provavelmente ouviremos opiniões diversas. Umas dirão, por exemplo, que a
Filosofia é algo muito difícil e que, por isso mesmo, só pode ser praticada
por pessoas de inteligência privilegiada, sendo inacessível aos “simples
mortais”; outras responderão que a Filosofia é coisa de gente doida, que vive
no mundo da Lua e que só se preocupa com assuntos abstratos, e que ela, a
Filosofia, nada tem a ver com a vida prática; outras, ainda, concordando com
estas últimas, emendarão que a Filosofia, por não ter uma aplicação prática
imediata, não serve para nada. Pode ser que alguém, remando
contra toda essa maré de opiniões pejorativas a respeito da Filosofia,
arrisque-se a dizer que a considera uma matéria linda, já que permite o
contato com o pensamento dos filósofos, expresso em frases de rara
profundidade e beleza, ainda que, por vezes, incompreensíveis; por fim,
certamente haverá também aqueles que confessarão, com algum sarcasmo ou
menosprezo, não ter a menor ideia do que seja a Filosofia. Todas essas opiniões, na
realidade, são, pelo menos em certa medida, expressão de um preconceito em
relação à Filosofia. Por que preconceito? Porque, em geral, são opiniões
emitidas apressadamente, sem a preocupação de se examinar com o devido
cuidado o assunto sobre o qual se está opinando a fim de conhecê-lo melhor.
Afinal, é justamente isso que caracteriza o preconceito. Sempre que adotamos
tal postura, corremos mais seriamente o risco de nos enganar em nosso
julgamento e até de cometer injustiças com as pessoas. Filosofia, 2015/Vol.1, p.6. Leitura e Análise
de Texto Tales
de Mileto: o distraído O preconceito e a hostilidade em relação à Filosofia
não são algo novo, recente, mas, ao contrário, remontam às origens da
Filosofia na Grécia Antiga. Talvez o registro mais antigo desse preconceito
seja aquele de que foi vítima Tales de Mileto, que viveu no século VII a.C. e
é considerado o primeiro filósofo da história. A respeito dele contava-se a
seguinte anedota, bastante difundida na Grécia Antiga e recuperada por Platão
em sua obra Teeteto1 : Tales era tão interessado no estudo dos astros que
costumava caminhar olhando para o céu. Certo dia, absorto em seus pensamentos
e raciocínios, acabou tropeçando e caindo em um poço, sendo motivo de riso e
caçoada para uma escrava que ali se encontrava. Espalhou-se, então, o boato de
que Tales se preocupava mais com as coisas do céu, esquecendo-se das que
estavam debaixo de seus pés. “Essa pilhéria”, adverte Platão, “se aplica a
todos os que vivem para a Filosofia.”2 Essa imagem de um homem distraído e
trapalhão, porém, não parece condizer com a verdade sobre Tales, que, ao que
tudo indica, era uma pessoa bem esperta, viva e inteligente. É o que se
conclui, por exemplo, de outra anedota contada sobre ele, registrada por
Aristóteles em sua obra A política e atribuída a Tales por causa de sua
sabedoria: “Como o censuravam pela pobreza e zombavam de sua inútil
filosofia, o conhecimento dos astros permitiu-lhe prever que haveria
abundância de olivas. Tendo juntado todo o dinheiro que podia, ele alugou,
antes do fim do inverno, todas as prensas de óleo de Mileto e de Quios.
Conseguiu-as a bom preço, porque ninguém oferecera melhor e ele dera algum
adiantamento. Feita a colheita, muitas pessoas apareceram ao mesmo tempo para
conseguir as prensas e ele as alugou pelo preço que quis. Tendo ganhado muito
dinheiro, mostrou a seus amigos que para os filósofos era muito fácil
enriquecer, mas que eles não se importavam com isso. Foi assim que mostrou
sua sabedoria.”3 Na verdade, Tales deve ter gozado de grande prestígio em sua
época. Tanto que passou para a posteridade como um dos sete sábios da Grécia4
: na política, empenhou-se em organizar as cidades gregas da Jônia para
enfrentar a ameaça dos persas; como engenheiro, quis desviar o curso de
alguns rios para fins de navegação e irrigação; como pesquisador, investigou
as causas das inundações do rio Nilo, rompendo com as explicações míticas que
se davam para elas; como astrônomo, previu um eclipse solar e descobriu a
constelação denominada Ursa Menor; como matemático e geômetra, teria
descoberto um método para medir a altura de uma pirâmide do Egito, do qual
teria derivado o famoso “teorema de Tales”. Além disso, não podemos esquecer
que Tales foi, segundo Aristóteles, o primeiro a dar uma resposta racional,
isto é, sem recorrer aos mitos, para a pergunta que mais incomodava os
primeiros filósofos (os chamados pré-socráticos ou filósofos físicos): Qual
era o elemento primordial que dava origem a todas as coisas? Para Tales esse
elemento era a água, por ela estar presente nos alimentos necessários à vida,
pelo fato de as coisas vivas serem úmidas, enquanto as mortas ressecam e
porque a Terra repousa sobre as águas. Daí sua conclusão de que ela deve ter
sido o elemento primordial. Vemos, portanto, que Tales, ao contrário do que
sugere a primeira anedota, não tinha nada de lunático, distraído e desligado
dos problemas concretos. Pôs toda a sua inteligência, curiosidade e
criatividade a serviço da busca de soluções para eles, sobretudo aqueles mais
importantes e urgentes em sua época. Eis por que a tal anedota revela, de
fato, um preconceito, isto é, um conceito precipitado e desprovido de
fundamentação. 1 PLATÃO. Diálogos. Teeteto/Crátilo. Tradução Carlos Alberto
Nunes. Belém: Editora Universitária UFPA, 2001. p. 83 [174a]. 2 Idem. 3
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 30. 4 De fato,
atribuem-se a ele inúmeros feitos importantes, como revela a professora e
filósofa Marilena Chaui, em Introdução à história da filosofia: dos
pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 55.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. Leitura e Análise
de Texto Sócrates:
aquele que vive nas nuvens Outra célebre vítima do preconceito e da
intolerância contra a Filosofia foi Sócrates. E neste caso as consequências
foram muito mais sérias, visto que o levaram à morte. Na realidade, não há
uma imagem única de Sócrates. Isso porque todas as informações que temos dele
nos chegaram por testemunhos indiretos, já que ele mesmo nada escreveu.
Assim, enquanto seus amigos, admiradores e discípulos, como Xenofonte e
Platão, por exemplo, o viam como sábio, patriota, respeitador das leis e da
religião, piedoso, justo, valoroso como guerreiro nas batalhas etc., seus
críticos o retratavam como uma pessoa esquisita, deslocada, excêntrica, charlatã,
corruptor de jovens e ímpio. De todos esses testemunhos pouco elogiosos sobre
Sócrates, sem dúvida o mais significativo que chegou até nós foi a imagem
dele traçada por Aristófanes1 na comédia As nuvens. Neste
texto, aparece um Sócrates “se movendo livremente, proclamando que caminhava
no ar e dizendo uma plêiade de outras tolices” das quais não entende nada2 .
É um Sócrates mestre dos sofistas, isto é, charlatão, enganador e que
ensinava às pessoas a arte desse engano. Aliás, essa imagem dos sofistas
também era, em boa medida, preconceituosa. Na peça de Aristófanes, ele surge
em cena empoleirado em uma cesta suspensa no ar, significando que ele vivia
nas alturas, preocupado com questões de cosmologia e de astronomia (movimento
dos astros, origem do universo etc.), ou com assuntos sem a menor relevância,
como a medida do pulo de uma pulga, ou se o zumbido de um mosquito é
produzido por sua tromba ou seu traseiro, ficando totalmente alheio aos
problemas realmente importantes da vida dos cidadãos de Atenas. A certa
altura, um dos discípulos conta que, certa vez, “uma lagartixa atrapalhou uma
indagação transcendental” de Sócrates. Isso aconteceu, segundo o relato,
quando ele “observava a lua para estudar o curso e as evoluções dela, no
momento em que ele olhava de boca aberta para o céu, do alto do teto uma
lagartixa noturna, dessas pintadas, defecou na boca dele”3 . Essa imagem
depreciativa e até cômica de Sócrates provavelmente revela a ideia que a
maioria das pessoas tinha a respeito dele e dos filósofos em geral. No
entanto, é uma imagem bastante distorcida. Na realidade, Sócrates e os
sofistas inauguram um novo período na história da Filosofia em que a reflexão
filosófica se desloca da cosmologia e da física (princí- pio que dá origem a
todas as coisas) para as questões relativas à vida concreta na cidade
(pólis), isto é, à política, à ética, ao conhecimento. Os assuntos que ele
gostava de abordar eram a justiça, a beleza, a coragem, o amor, a educação,
entre outros. Vem daí, aliás, a denominação de pré-socráticos atribuída aos
filósofos anteriores a ele. Não tanto por razões de cronologia, mas
principalmente pela diferença quanto aos temas da reflexão filosófica. Além
disso, no que se refere aos sofistas, Sócrates tinha, certamente, muito mais
diferenças e mesmo divergências com eles do que semelhanças. Enquanto os
sofistas se apresentavam como sábios, isto é, pessoas entendidas em diversos
assuntos, especialmente na técnica da retórica, Sócrates dizia: “Sei que nada
sei”; enquanto os sofistas cobravam pelos ensinamentos que ministravam,
Sócrates condenava essa prática e filosofava com as pessoas gratuitamente na
praça (ágora) de Atenas; enquanto os sofistas eram céticos em relação à
possibilidade de se conhecer a verdade universal, Sócrates a perseguia
incansavelmente; enquanto os sofistas contentavam-se com a opinião (doxa),
Sócrates exigia o saber verdadeiro (episteme). A
respeito dos sofistas, diz Sócrates ironicamente por ocasião de seu
julgamento: “Cada um desses homens [...] é capaz de dirigir-se a qualquer
cidade e persuadir os jovens, Filosofia - 3a série - Volume 1 14 • Discuta
com seus colegas as seguintes questões: 1. A comédia e o humor podem ser
formas de propagação de preconceitos? Justifique sua resposta e, se possível,
dê exemplos. 2. Essas formas de manifestação artística e cultural são
importantes para a democracia? Justifique. 3. Você vê alguma semelhança entre
o papel da comédia no tempo de Sócrates e o dos programas humorísticos
atuais? Dê exemplos e comente. os quais podem se associar, segundo queiram,
com qualquer de seus concidadãos sem pagar, a deixar a companhia dessa pessoa
para se juntarem a ele, remunerá-lo e, além disso, mostrar-lhe gratidão”4 Vemos,
assim, que a imagem de Sócrates traçada por Aristófanes, procurando retratá-lo
como alguém que anda nas nuvens, preocupado com assuntos alheios ao cotidiano
das pessoas e identificado com os sofistas, não corresponde à verdade sobre
ele. Ao contrá- rio, baseia-se em um preconceito, a exemplo do que ocorrera
com a anedota sobre Tales. É interessante observar que em seu julgamento
Sócrates faz menção à comédia de Aristófanes (As nuvens) como um dos fatores
que provocaram as acusações contra ele.5 1 ARISTÓFANES. As nuvens; Só para
mulheres; Um deus chamado dinheiro. Tradução Mário da Gama Kury. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 11-101. 2 PLATÃO. Apologia de Sócrates.
Diálogos socráticos III. Tradução Edson Bini. São Paulo/Bauru: Edipro, 2008.
p. 139-140 [19 c]. 3 ARISTÓFANES. Op. cit. p. 21. 4 PLATÃO. Op. cit. p. 140
[19 e–20a]. 5 Idem, p. 139 [19c]. Elaborado especialmente para o São Paulo
faz escola. Leitura e Análise
de Texto A
morte de Sócrates De acordo com Platão, as acusações contra Sócrates foram:
“Sócrates é réu por empenhar-se com excesso de zelo, de maneira supérflua e indiscreta,
na investigação de coisas sob a terra e nos céus, fortalecendo o argumento
mais fraco e ensinando essas mesmas coisas a outros.”1 “Sócrates é réu porque
corrompe a juventude e descrê dos deuses do Estado, crendo em outras
divindades novas.”2 Levado a julgamento, foi condenado à morte. Como e por
que isso ocorreu? Tudo começou quando Sócrates tomou conhecimento de que o
oráculo do templo de Delfos, dedicado ao deus Apolo, havia proclamado que ele
era o homem mais sábio de Atenas. Não se considerando como tal, mas, ao mesmo
tempo, não podendo duvidar da palavra do deus, decidiu investigar o
significado de tal revelação. Procurou, então, aqueles cidadãos mais ilustres
de Atenas e que eram tidos como os mais sábios da cidade. Eles pertenciam a
três categorias sociais: os políticos, os poetas (autores de tragédias, como
Aristófanes, e de ditirambos – cantos religiosos em homenagem ao deus
Dionísio) e os artesãos. Interrogando esses cidadãos (por meio de seu método
dialético), constatou que, na realidade, nada sabiam dos assuntos em que eram
tidos como sábios. Ao término da conversa com cada uma dessas pessoas
Sócrates concluía: “Sou
mais sábio do que esse homem; nenhum de nós dois realmente conhece algo de
admirável e bom, entretanto ele julga que conhece algo quando não conhece,
enquanto eu, como nada conheço, não julgo tampouco que conheço. Portanto, é
provável, de algum modo, que nessa modesta medida seja eu mais sábio do que
esse indivíduo – no fato de não julgar que conheço o que não conheço”3 . Daí
a famosa expressão atribuída a Sócrates: “Sei que nada sei”. Acontece que
Sócrates praticava esses diálogos em praça pública, à vista de todos. Dentre
os presentes havia sempre muitos jovens, filhos de famílias ricas, que
dispunham de tempo livre (já que não precisavam trabalhar) e, por isso,
podiam acompanhá-lo nessas ocasiões. Eles se divertiam vendo Sócrates
“desbancar” os que se julgavam sábios e, mais tarde, punham-se a imitá-lo,
interrogando outras pessoas e descobrindo muitas que supunham saber o que de
fato não sabiam. Essas pessoas, que em geral eram gente importante e de
prestígio na cidade, sentindo-se constrangidas, tornavam-se furiosas não
contra esses jovens, mas contra aquele que consideravam responsável por
tê-los ensinado tal comportamento; e passavam a propagar que: “Sócrates é o
mais pestilento dos indivíduos e está corrompendo a juventude”. Na verdade,
quando indagadas, tais pessoas não conseguiam provar tal acusa- ção. Mas para
esconder seu constrangimento, lançavam mão daquelas acusações que sempre são
usadas contra todo “filósofo, ou seja, que [ensina] ‘as coisas no ar e as
coisas sob a terra’ e ‘não crê nos deuses’, e ‘torna mais forte o argumento
mais fraco’.”4 Esta é a origem das “inimizades, a um tempo implacáveis e
aflitivas”, do ódio, das “calúnias” e das acusações contra Sócrates5 e que
acabaram por levá-lo à morte. No fundo, Sócrates foi condenado porque, na
democracia ateniense, os assuntos mais importantes da vida da cidade eram
decididos em assembleias (ekklesía) nas quais cada cidadão podia expressar
livremente sua opinião a favor ou contra uma determinada posi- ção. Era,
pois, um regime político sustentado pela crença no valor das opiniões. Ora, o
que Sócrates fazia com sua dialética era justamente pôr em cheque as opiniões,
mostrando que, muitas vezes, elas refletiam um conhecimento falso sobre o
assunto em questão. Assim, para as pessoas importantes da cidade que
costumavam discursar nessas assembleias, a “má” influência de Sócrates,
sobretudo sobre os jovens, representava uma ameaça ao sistema democrático do
qual se beneficiavam. Eis aí a natureza política da condenação de Sócrates. 1
PLATÃO. Apologia de Sócrates. Diálogos socráticos III. Tradução Edson Bini.
São Paulo/Bauru: Edipro, 2008. p. 139 [19 b-c]. 2 Idem, p. 146 [24 c]. 3
Idem, p. 142-143 [21 d]. 4 Ibidem, p. 145 [23 d]. 5 Ibidem, p. 144 [ 23 a]. Todos os homens são
“Filósofos” Antônio Gramsci, um filósofo italiano do século
passado, já alertava para a necessidade de se combater o preconceito muito
difundido de que a Filosofia é uma atividade intelectual muito difícil e, por
isso, restrita a uma minoria de inteligência supostamente privilegiada. Isto
porque, para ele, em um certo sentido, “todos os homens são ‘filósofos’,
pois, de algum modo, todas as pessoas, sem distinção, independente de seu
grau de escolaridade, lidam, convivem, trabalham com a Filosofia e a utilizam
no seu dia a dia, mesmo que não se apercebam disso. Afinal, a Filosofia está
presente “na linguagem, no senso comum, no bom senso, na religião,” enfim,
“em todo sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ser e agir” que
caracteriza o que convencionalmente se denomina de “folclore” e do qual todos
participam. A Filosofia está presente na linguagem porque esta não
é pura e simplesmente um amontoado de “palavras gramaticalmente vazias de
conteúdos”. Ao contrário, ela é um “conjunto de noções e conceitos
determinados”, muitos dos quais derivados da Filosofia, como vimos nas frases
apresentadas. Portanto, a Filosofia está presente na linguagem que
utilizamos, mesmo que não tenhamos consciência disso. Daí por que, Gramsci:
“Linguagem significa também cultura e Filosofia (ainda que no nível do senso
comum)”. O senso comum – é o conjunto de valores, crenças,
opiniões, preferências, que constitui a nossa visão de mundo e que orienta
nossas ações e escolhas cotidianas. Em geral é assimilado acriticamente, sem
qualquer questionamento. A exemplo do que acontece com a linguagem, muitos
desses valores e crenças têm origem na Filosofia, mas nós os assimilamos
espontaneamente, sem nos darmos conta de sua origem. Simplesmente pensamos e
vivemos de uma determinada maneira, acreditamos em certo grupo de valores,
defendemos alguma posição politica, ideológica ou religiosa, E assim por
diante, sem, no entanto, nos preocuparmos em fundamentar nossas opiniões. Ao
contrário, contentamo-nos com argumentos superficiais, muitas das vezes até
inconsistentes ou contraditórios. O “bom senso” -, por sua vez, “coincide com a
Filosofia”. Enquanto o senso comum é acrítico, espontâneo, irrefletido, o bom
senso implica refletir, tomar consciência de que os acontecimentos possuem
uma dimensão racional e que, portanto, devem ser compreendidos e enfrentados
também de forma racional, a fim de se obter uma orientação consistente para a
ação, evitando se deixar levar por “impulsos instintivos e violentos”. Esse “bom senso” é o que Gramsci chamou de “núcleo
sadio do senso comum”. Ou seja, mesmo no nível do senso comum é possível
refletir, pensar de maneira crítica sobre a realidade, tomar consciência dela
e agir de modo coerente com nossa consciência. E isso, de certo modo, já é
“filosofar”, pelo menos um filosofar ao nível do senso comum. De fato, não é
raro vermos pessoas simples, às vezes com pouca ou nenhuma escolaridade, que
revelam um entendimento aguçado e bem elaborado da realidade em que vivem. Finalmente, a Filosofia está presente na religião
porque também na experiência religiosa nos deparamos com questões e conceitos
(Deus, alma, justiça, bem, mal, morte, belo, virtude, amor, virtude, etc.),
que foram e continuam sendo objeto da reflexão e da elaboração dos filósofos.
Portanto, se a Filosofia está contida na linguagem, no
senso comum, no bom senso e na religião, podemos dizer então que ela está
presente em todas as dimensões da vida humana, sendo, portanto, familiar a
todas as pessoas. Afinal, toda atividade humana, mesmo aquelas que são
predominantemente práticas (as diversas formas de trabalho manual, por
exemplo), é sempre acompanhada de um pensar, de um saber, em suma, de um
trabalho intelectual, racional, reflexivo. É nesse sentido que podemos
afirmar que “todos os homens são filósofos”. Filosofia, 2015/Vol.1, p.24. Leitura e Análise
de Texto Filósofos e “philósophos” Se “todos os homens são ‘filósofos’”, como quer Gramsci,
qual é, então, a diferença entre o filosofar de uma pessoa comum e o de um
filósofo profissional ou especialista? O próprio autor esclarece: “O filósofo profissional ou técnico não só ‘pensa’ com
maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que
os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe as
razões do desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições
de retornar os problemas a partir do ponto em que eles se encontram após terem
sofrido a mais alta tentativa de solução etc. Ele tem, no campo do
pensamento, a mesma função que nos diversos campos científicos têm os
especialistas.” Trocando em pequenas partes, podemos dizer que o
filósofo especialista: pensa, reflete, raciocina observando mais
cuidadosamente as regras e os procedimentos metodológicos que utiliza;
conhece a história do pensamento, isto é, a história da Filosofia; é capaz de
analisar os problemas de seu tempo à luz da contribuição dos filósofos do
passado que já se debruçaram sobre eles. Mas se existe essa diferença entre o filósofo
especialista e o não especialista, por que então afirmar que “todos os homens
são ‘filósofos’”? Justamente para combater e destruir aquele preconceito de
que a Filosofia é uma atividade muito difícil e restrita a uma minoria. É importante perceber que a propagação desse
preconceito cumpre uma função política conservadora, na medida em que afasta
a Filosofia do contato com as massas, com o povo, com as pessoas mais
simples. Dessa forma, impedidas de se apropriar dos conceitos e das teorias
elaboradas pelos filósofos, as pessoas ficam desprovidas dessas ferramentas
intelectuais que lhes permitiriam superar mais facilmente o senso comum e
adquirir um conhecimento mais crítico e elaborado da realidade em que vivem. Além disso, cabe afirmar que todos os homens são
“filósofos” para deixar claro que todas as pessoas são predominantemente
capazes de avançar de um “filosofar” espontâneo e assistemático, restrito ao
bom senso, para um filosofar mais elaborado e rigoroso, semelhante ao
praticado pelos filósofos especialistas. Filosofia,
2015/Vol.1, p.28. Leitura e Análise
de Texto O
que é, afinal, a Filosofia? Comecemos pela origem da palavra. Filosofia vem
do grego (philo = amigo ou amante + sophia = saber, sabedoria) e significa
amor ou amizade pelo saber. Quem ama sente-se carente
do objeto amado e, por isso, vai à sua procura. No caso do filósofo, como o
objeto de seu desejo é o saber, o conhecimento, é este que ele busca. Para
explicar o sentido dessa atitude de busca do saber, própria da Filosofia,
Platão, em sua obra O banquete, recria, pela boca de Sócrates, o mito do
nascimento do Amor. Quando nasceu Afrodite, conta Sócrates, os deuses deram
um banquete para celebrar a ocasião. Entre eles, encontrava-se também Recurso,
filho de Prudência. Quando o jantar terminou, Pobreza chegou e postou-se à
porta para esmolar. Recurso havia se embriagado e, dirigindo-se ao jardim de
Zeus, adormeceu. Pobreza, aproveitando-se da situação, deitou-se ao seu lado
e concebeu o Amor. Assim, gerado no dia do nascimento de Afrodite, Amor
tornou-se seu companheiro e servo e, ao mesmo tempo, amante do belo, pois
Afrodite é bela. Por ser filho de Pobreza e Recurso, ele é, por parte de mãe,
“sempre pobre”, carente e padecedor de muitas necessidades; por parte de pai,
porém, “ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e
enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e
cheio de recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro,
sofista.”1 Por essa sua natureza dividida, Amor está no meio entre a
sabedoria e a ignorância. A sabedoria é a condição daquele que já possui o
saber e, por isso, não sente necessidade de buscá-lo. É o caso dos deuses.
Por isso os deuses não filosofam. Os ignorantes, por sua vez, embora nada
saibam, julgam saber o suficiente e, por isso, não anseiam por saber mais.
Logo, também não filosofam. Quem
então filosofa?, pergunta Sócrates. Aqueles que estão entre esses dois
extremos: a sabedoria e a ignorância. Um deles é o Amor. “Com efeito, uma das
coisas mais belas é a sabedoria, e o Amor é amor pelo belo, de modo que é
forçoso o Amor ser filósofo e, sendo filósofo, estar entre o sábio e o
ignorante. E a causa dessa sua condição é a sua origem: pois é filho de um
pai sábio e rico e de uma mãe que não é sábia, e pobre.”2 Mas o saber que o
filósofo almeja não é de um tipo qualquer. Não é, por exemplo, aquele do
senso comum que se expressa como opinião e ao qual os gregos antigos
denominavam doxa. O saber buscado pelo filósofo é sophia, isto é, um saber
bem fundamentado, amparado em demonstrações racionais consistentes e passível
de ser considerado verdadeiro, independentemente das opiniões particulares. O
mesmo tipo de saber buscado por Sócrates por meio de seu método dialético.
Não fosse assim o termo philosopho (amante do saber) deveria ser substituído
por philodoxo (amante da opinião). 1
Platão. O banquete. Rio de Janeiro: Difel. 1983. p. 35. 2 Idem, p. 36.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. Leitura e Análise
de Texto A
Filosofia como reflexão Vimos
que etimologicamente a palavra filosofia significa busca do conhecimento
verdadeiro, ou seja, busca da verdade. A forma pela qual a Filosofia realiza
essa busca da verdade é por meio da reflexão. Mas o que é refletir? Como nos
lembra o professor Dermeval Saviani1 : “se toda reflexão é pensamento, nem
todo pensamento é reflexão”. O pensamento é um ato corriqueiro, singelo,
espontâneo, que realizamos descompromissadamente a todo instante, até mesmo
sem perceber. A reflexão, por sua vez, é uma atitude mais consciente, mais
comprometida, que implica pensar mais profundamente sobre um determinado
assunto, repensá-lo, problematizá-lo, submetendo-o à dúvida, à crítica, à
análise, buscando seu verdadeiro significado. Assim,
o pensamento pode ser reflexivo ou não. Acontece que nem toda reflexão é
filosófica. Segundo Saviani, para isso ela precisa satisfazer, ao mesmo
tempo, a pelo menos três exigências: • ser radical, isto é, analisar em
profundidade o problema em questão, buscando chegar às suas raízes, aos seus
fundamentos; • ser rigorosa, ou seja, proceder com coerência, de forma
sistemática, segundo um método bem definido para propiciar conclusões válidas
e bem fundamentadas; • e ser de conjunto, isto é, tomar o objeto em questão
não de forma isolada e abstrata, mas numa perspectiva de totalidade, ou seja,
levando em consideração os diversos fatores que, num dado contexto, o
determinam e condicionam. Além disso, vale lembrar que filosofar implica
questionar o senso comum. Para tanto, é preciso utilizar certos conceitos e
teorias necessários para a compreensão mais aprofundada dos temas e problemas
sobre os quais se vai refletir. Ora, como estes conceitos e teorias estão
contidos nas obras dos filósofos, é importante estudar tais obras, não para
memorizar mecanicamente, mas para compreendê-las e a partir desta compreensão
questionar o senso comum e transformar nossas representações primeiras sobre
diferentes temas da vida cotidiana, da vida em sociedade. Mas, ao entrarmos
em contato com a obra de um filósofo, não apreendemos apenas os conceitos por
ele desenvolvidos. Apreendemos também o seu jeito de pensar, de raciocinar,
de argumentar, de organizar as ideias, enfim, o seu “estilo reflexivo”2 , o
que também nos ajuda a melhorar cada vez mais nosso próprio jeito de pensar.
É dessa forma, estudando o pensamento dos filósofos e nos exercitando mais e
mais na prática da reflexão, que nos tornamos cada vez mais filósofos. 1
SAVIANI, Demerval. A filosofia na formação do educador. In: _____. Educação:
Do senso comum à consciência filosófica. Campinas: Autores Associados, 2007.
p. 20. . 2 SÃO PAULO (Estado), Secretaria da Educação, Coordenadoria de
Estudos e Normas Pedagógicas. Proposta Curricular para o Ensino de Filosofia:
2o Grau. São Paulo: SE/CENP, 1992 (2a versão preliminar). Elaborado
especialmente para o São Paulo faz escola. Leitura e Análise
de Texto Para
que serve a Filosofia? Qual é sua utilidade? Para responder a essa pergunta
precisamos antes fazer algumas outras: O que entendemos por útil? Quem nos dá
os critérios a partir dos quais consideramos algumas coisas úteis e outras
inúteis? Conhecemos de fato esses critérios? Paramos para pensar sobre eles?
Tomamos conscientemente a decisão de aceitá-los? Por que perguntamos sobre a
utilidade de certas coisas e não de outras? Haveria pessoas ou grupos
interessados em mostrar algumas coisas como úteis e outras como inúteis?
Quando dizemos que, para nós, uma determinada coisa não serve para nada,
estamos expressando um conhecimento efetivo sobre essa coisa ou, na verdade,
apenas reproduzimos a “opinião” geral, o “senso comum”, a visão hegemônica a
respeito dela? Estamos agindo com autonomia e liberdade? Poderíamos formular
ainda inúmeros outros questionamentos derivados daquele inicialmente
apresentado. E, ao fazê-lo, já estaríamos nos situando dentro da Filosofia,
isto é, já estaríamos, num certo sentido, filosofando. Afinal, filosofar é,
também, não aceitar como verdadeira qualquer ideia sem antes submetê-la à
dúvida, à investigação, à reflexão crítica e rigorosa. Ora, isso significa
que, para demonstrar com consistência a utilidade ou inutilidade da Filosofia,
ou de qualquer outra coisa, já teríamos que filosofar. Elaborado
especialmente para o São Paulo faz escola. “[...] é preferível ‘pensar’ sem
disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto
é, ‘particular’ de uma concepção do mundo ‘imposta’ mecanicamente pelo
ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais nos quais todos
estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente [...]
ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica
e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho próprio do cérebro,
escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da
história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva
e servilmente, a marca da própria personalidade?” GRAMSCI, A. Caderno 11
(1932-1933). Introdução ao estudo da Filosofia. In: Cadernos do cárcere; Vol.
1. Edição Carlos Nelson Coutinho com Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio
Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 93-94. ARISTÓFANES.
As nuvens; Só para mulheres; Um deus chamado dinheiro. Tradu- ção Mário da
Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. A obra traz as três comédias
indicadas no título, antecedidas por uma introdução, escrita pelo tradutor,
na qual este apresenta sucintamente o enredo desses textos. • ARISTÓTELES. A
política. São Paulo: Martins Fontes, 1998. A passagem referente à anedota
sobre Tales encontra-se no capítulo II do Livro I, dedicado à propriedade e
aos meios de adquiri-la. • ______. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
1972. • CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos
pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. Esta
obra pode ser de grande ajuda, particularmente os capítulos 2 e 3,
intitulados, respectivamente, Os pré-socráticos e Os sofistas e Sócrates: o
humano como tema e problema. • HUISMAN, Denis. Dicionário dos filósofos. São
Paulo: Martins Fontes, 2001. • PLATÃO. Apologia de Sócrates. In: Sócrates.
São Paulo: Nova Cultural, 1972. (Os Pensadores). Esta obra é fundamental para
a discussão sobre o preconceito contra Sócrates e a intolerância com ele.
Você pode, inclusive, extrair dela outras passagens que considerar adequadas
para aprofundar a discussão ou mesmo estimular os alunos a lê-la por
completo. • PLATÃO. O banquete. Rio de Janeiro: Difel, 2008. • ______. Fedro.
São Paulo: Martin Claret, 2002. • Pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural,
1985. (Os pensadores). • SÃO PAULO (Estado), Secretaria da Educação,
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Proposta Curricular para o
Ensino de Filosofia: 2o Grau. São Paulo: SE/CENP, 1992 (2a versão
preliminar). Homem e linguagem segundo
Gadamer
O presente
artigo terá por objetivo falar sobre o tema da linguagem, conforme
compreendida no pensamento de Gadamer, como o ponto central do ser humano.
Então, ao propor este tema é necessário que se fale, também, sobre o homem,
uma vez que a linguagem só pode existir por causa do homem e para o homem. Neste
sentido, Aristóteles classifica o homem como o ser vivo que possui “logos”
(zoón logikón) sendo essa definição canonizada na tradição ocidental com a
forma de que o homem é o animal racional, o ser vivo racional, o ser que se
distingue de todos os outros animais pela capacidade de pensar. Porém, a
palavra “logos”, em sua origem, se expressa no sentido de razão, pensar, mas
significa também linguagem. Ao definir o homem como zoón logikón, Aristóteles
estabelece uma diferença entre o homem e o animal. Os animais possuem a
capacidade de se entenderem mutuamente agindo de acordo com seus instintos
sendo a eles permitido pela sua natureza chegarem somente a esse ponto. Ao
contrário, ao homem foi dada a capacidade do “logos”, isto é, o homem é o
único ser que possui a capacidade de raciocinar, pensar e falar. Por meio
desta capacidade ele consegue dominar os seus instintos. “Pela fala o homem
tem a capacidade de comunicar tudo o que pensa”[1]. Falar aparece aqui no
sentido de tornar visível ao outro, pela sua fala, algo que esteja ausente de
modo que o outro também possa vê-lo. No entanto, a linguagem não constitui o
ponto central do pensamento filosófico do ocidente. Embora o Antigo
Testamento chame a atenção para o fato de Deus ter entregado ao homem o
domínio do mundo dando-lhe poder para nomear os seres como melhor lhe
conviesse, fora “justamente a tradição religiosa do Ocidente cristão a
principal e única responsável pela paralisação do pensamento acerca da linguagem.”[2] Na época do
Iluminismo a pergunta pela origem da linguagem segue um novo sentido. A
partir daí, a linguagem passa a ser respondida não mais pelo relato da
perspectiva histórica da criação, mas a partir da própria natureza do homem.
O que definiu este novo horizonte da linguagem foi admitir no homem uma
faculdade esclarecedora do regimento estrutural, a qual nós chamamos de
gramática, sintaxe, vocabulário da linguagem. Com esse modo de pensar, o
fenômeno da linguagem adquire o significado de um campo de expressão
eminente, no qual é possível estudar a essência do homem e sua evolução na
história. No entanto, por esta via, não é possível penetrar nos postulados
centrais do pensamento filosófico porque a definição cartesiana de
consciência como autoconsciência encontra-se no pano de fundo de todo
pensamento moderno. E na filosofia contemporânea a filosofia da linguagem
chega a seu ápice. Segundo Gadamer, “a palavra “logos” significa não apenas
pensamento e linguagem, mas também conceito e lei”[3], ou seja, o conceito da
linguagem pressupõe uma consciência da liguagem que quer dizer um movimento
reflexível no qual o sujeito pensante reflete a partir da realização
inconsciente da linguagem. O verdadeiro enigma da linguagem, porém, é que
isso jamais se deixa alcançar plenamente. “Todo pensar sobre a linguagem,
pelo contrário, já foi sempre alcançado pela linguagem”[4].
Nos nossos
pensamentos e conhecimentos somos sempre precedidos pela interpretação do
mundo feita por meio da linguagem. Nesse sentido, a linguagem expressa nossa
real e verdadeira finitude. Todo indivíduo, porém, quando se expressa ou fala
não possui uma verdadeira consciência daquilo que está expressando, falando.
Quando temos em mente algo para dizer e nos vem à memória uma palavra que soa
estranha, nos perguntamos: “pode-se dizer isso?”. É nesse momento que a
linguagem que falamos torna-se consciente por não fazer o que é “seu
próprio”. Para entedermos o que seria esse “seu próprio” é necessário, pois,
dividí-lo em três apectos: O primeiro
é o esquecimento de si mesmo de que advém a linguagem. A linguagem viva não
tem consciência de sua própria estrutura, gramática, sintaxe, etc., isto é,
de tudo aquilo que a linguagen tematiza. Mas “o verdadeiro sentido da
linguagem é aquilo que adentramos quando a ouvimos: o dito”[5]. O segundo é a
ausência de um eu. Nesse sentido, o falar não pertence ao eu, mas a nós, pois
quem fala uma língua que ninguém compreende, simplesmente não fala nada.
Falar significa falar a alguém. A palavra quer ser palavra que vai ao
encontro de alguém. A realidade do falar consiste no diálogo. E o terceiro
aspecto pode-se chamar de universalidade da linguagem. A linguagem não
constitui um âmbito fechado do que pode ser dito, pois ela é oniabrangente.
Assim,
segundo Gadamer, pode-se dizer que: - a
linguagem é, pois, o centro do ser humano, quando considerado no âmbito que
só ela consegue preencher: o âmbito da convivência humana, o âmbito do
entendimento, do consenso crescente tão indispensável à vida humana como o ar
que respiramos. Realmente o homem é o ser que possui linguagem segundo a
afirmação de Aristóteles. Tudo que é humano deve poder ser dito entre nós[6].
A partir de tais fatos, conclui-se que a linguagem é o ponto central do ser
humano. É a partir dela que o homem se faz presença e possui a capacidade de
agir no mundo e interagir com o mesmo. O homem é, de fato, um ser vivo dotado
de linguagem.
Referências Disponível em: https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=1252
Acesso em 01/05/2020 às 18 horas. GADAMER,
Hans-Georg. Verdade e Método II: Complementos e índice. Tradução de Ênio
Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2002.
[1]
GADAMER, 2002. p. 173. [2]
GADAMER, 2002. p. 174. [3]
GADAMER, 2002. p. 176 [4] Idem [5]
GADAMER, 2002. p. 179 [6]
GADAMER, 2002. p. 182. Cultura e linguagem O homem é um ser
que fala. A palavra se encontra no limiar do universo humano, pois
caracteriza fundamentalmente o homem e o distingue do animal. A diferença
entre a linguagem humana e a do animal está no fato de que este não conhece o
símbolo, mas somente o índice. O índice está relacionado de forma fixa e
única com uma coisa que se refere. Por exemplo, as frases com que adestramos
o cachorro devem ser sempre as mesmas, pois são índices, isto é, indicam
alguma coisa muito específica. Assim, a linguagem animal visa à adaptação a
situação concreta, enquanto a linguagem humana intervém como uma forma
abstrata que distancia o homem da experiência vivida, tornando o capaz de
reorganizar numa outra totalidade e lhe dar novo sentido. É por isso que
podemos dizer que, mesmo quando o animal consegue resolver problemas, sua
inteligência é ainda concreta. Já o homem, pelo poder do símbolo, tem uma inteligência
abstrata. Portanto, se não tem oportunidade de desenvolver e enriquecer a
linguagem, o homem torna-se incapaz de compreender e agir sobre o mundo que o
cerca. RESPONDER (3 ANO) ATD
– TIPO – 2 (NÚCLEO ESPECÍFICO)
Leitura e Análise de Texto: 1 – Na perspectiva do Texto, defina Preconceito e
Filosofia. Apresente exemplos. 2 – Expliquei do ponto de vista da Filosofia da
Natureza / Cosmologia e Filosofia Antropológica: o pensamento e importância
de Tales de Mileto e Sócrates. 3 – Quais os reais problemas éticos, políticos e
sociais combatidos por Sócrates e os motivos da condenação de Sócrates –
[apologia.]. 4 – Todos os Homens são Filósofos? Justifique. 5 – Quais são as contribuições do pensamento filosófico
na consolidação da cidadania. 6 – Como o estudo da Filosofia pode ajudar no combate ao
covid-19. Justifique. 7 – Defina senso comum e bom senso na perspectiva de Gramsci 8 –
Discunta Hermeneuticamente o texto “Homem e Linguagem de Gadamer.” OS ESTUDANTES DEVERÃO: -ler e analisar todos os textos; -realizar resumos ou mapa de conceitos; - ESCOLA; - escrever nome completo; - informar número respectivo da chamada; - turma/ série; -disciplina/ docente; -escrever em folha de almaço ou realizar no editor de texto; -na folha de almaço, anexar as fotos em forma (JPG); - editor de texto - em forma de anexo; ENVIAR O BLOCO DE ATIVIDADES PARA O E-MAIL: apollovsdioniso@gmail.com
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What A Wonderful World
Eu vejo o azul dos céus e o branco das nuvens O brilho do dia abençoado, a sagrada noite escura E eu penso comigo - que Mundo Maravilhoso. As cores do arco-íris, tão bonitas nos céus; - Mundo Maravilhoso :)
sexta-feira, 8 de maio de 2020
NÚCLEO ESPECÍFICO: FILOSOFIA - 3 ANO / 3 TERMO ENSINO MÉDIO
NÚCLEO ESPECÍFICO: FILOSOFIA - 1 ANO / 1 TERMO ENSINO MÉDIO
NÚCLEO ESPECÍFICO |
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TURMA 1a SÉRIE E/M e 1ºTERMO - EJA |
DISCIPLINA: FILOSOFIA |
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CONTEÚDOS: Núcleo
Específico
I.
Por que estudar Filosofia?
II.
As áreas da Filosofia “Na filosofia, pois, aprendemos a analisar os elementos
que compõem a existência do ‘ser-no-mundo’, isto porque há em nós uma
inquietação existencial congênita. Ao filosofar avivamos nossa própria luz
interior, fazemos um exercício de aproximação e de encontro com o que é
buscado. Há, pois, o descobrimento e o diálogo, em busca do conhecimento. Por
isso, a filosofia é o conhecimento do conhecimento. Aí está a sua diferença
com relação à ciência. Enquanto esta trata dos dados experimentais da
realidade, a filosofia trata das idéias, conceitos ou representações mentais
daquela mesma realidade. De urna certa forma, a filosofia se ocupa dos mesmos
objetos da ciência. Mas, aí está a grande diferença: de uma certa forma. Para
a filosofia o que importa é a natureza do conhecimento, o seu processamento:
O que vem a ser? Como se realiza? Para que se dirige e em que se torna?
Ponderar o seu valor e dar-lhe uma expressão conveniente, ordenando e
sistematizando a conceituação que o compõe: aí esta o seu objetivo. O ser racional
é plenamente consciente do seu saber, o que lhe permite utilizá-lo de modo
intencional. (Filosofia para jovens
– Maria L. S. Teles) A
NATUREZA DA FILOSOFIA As evidências do cotidiano
Em nossa vida
cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou recusamos coisas,
pessoas, situações. Fazemos perguntas como "que horas são?", ou
"que dia é hoje?". Dizemos frases como "ele está
sonhando", ou "ela ficou maluca". Fazemos afirmações como
"onde há fumaça, há fogo", ou "não saia na chuva para não se
resfriar". Avaliamos coisas e pessoas, dizendo, por exemplo, "esta
casa é mais bonita do que a outra" e "Maria está mais jovem do que
Glorinha". Numa disputa, quando os ânimos estão exaltados, um dos
contendores pode gritar ao outro: "Mentiroso! Eu estava lá e não foi
isso o que aconteceu", e alguém, querendo acalmar a briga, pode dizer:
"Vamos ser objetivos, cada um diga o que viu e vamos nos entender".
Também é comum ouvirmos os pais e amigos dizerem que somos muito subjetivos
quando o assunto é o namorado ou a namorada. Freqüentemente, quando aprovamos
uma pessoa, o que ela diz, como ela age, dizemos que essa pessoa "é
legal!". Vejamos um pouco
mais de perto o que dizemos em nosso cotidiano. Quando pergunto "que
horas são?" ou "que dia é hoje?", minha expectativa é a de que
alguém, tendo um relógio ou um calendário, me dê a resposta exata. Em que
acredito quando faço a pergunta e aceito a resposta? Acredito que o tempo existe,
que ele passa, pode ser medido em horas e dias, que o que já passou é
diferente de agora e o que virá também há de ser diferente deste momento, que
o passado pode ser lembrado ou esquecido, e o futuro, desejado ou temido.
Assim, uma simples pergunta contém, silenciosamente, várias crenças não
questionadas. Quando digo "ele está sonhando", referindo-me a
alguém que diz ou pensa alguma coisa que julgo impossível ou improvável,
tenho igualmente muitas crenças silenciosas: acredito que sonhar é diferente
de estar acordado, que, no sonho, o impossível e o improvável se apresentam
como possível e provável, e também que o sonho se relaciona com o irreal,
enquanto a vigília se relaciona com o que existe realmente. Acredito,
portanto, que a realidade existe fora de mim, posso percebê-la e conhecê-la
tal como é, sei diferenciar realidade de ilusão. Como se pode notar, nossa
vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita de
evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais, óbvias.
Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na quantidade, na
verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre verdade e
mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a
subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da
moral, da sociedade. A atitude filosófica Imaginemos, agora,
alguém que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a fazer perguntas
inesperadas. Em vez de "que horas são?" ou "que dia é
hoje?", perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer "está
sonhando" ou "ficou maluca", quisesse saber: O que é o sonho?
A loucura? A razão? Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas
perguntas, suas afirmações por outras: "Onde há fumaça, há fogo",
ou "não saia na chuva para não ficar resfriado", por: O que é
causa? O que é efeito?; "seja objetivo", ou "eles são muito
subjetivos", por: O que é a objetividade? O que é a subjetividade?;
"Esta casa é mais bonita do que a outra", por: O que é "mais"?
O que é "menos"? O que é o belo? Em vez de gritar
"mentiroso!", questionasse: O que é a verdade? O que é o falso? O
que é o erro? O que é a mentira? O que é a ilusão? Se, em vez de falar na
subjetividade dos namorados, inquirisse: O que é o amor? O que é o desejo? O
que são os sentimentos? Se, em lugar de discorrer tranqüilamente sobre
"maior" e "menor" ou "claro" e
"escuro", resolvesse investigar: O que é a quantidade? O que é a
qualidade? E se, em vez de afirmar que gosta de alguém porque possui as
mesmas idéias, os mesmos gostos, as mesmas preferências e os mesmos valores,
preferisse analisar: O que é um valor? O que é um valor moral? O que é um
valor artístico? o que é a moral? O que é a vontade? O que é a liberdade?
Alguém que tomasse essa decisão estaria tomando distância da vida cotidiana e
de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos
que alimentam, silenciosamente, nossa existência. Ao tomar essa distância,
estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que
cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos
sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude
filosófica. Assim, uma primeira resposta à pergunta "O que é
Filosofia?" poderia ser: a decisão de não aceitar como óbvias e
evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os
comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes
havê-los investigado e compreendido. Perguntaram, certa vez, a um filósofo:
"Para que Filosofia?". E ele respondeu: "Para não darmos nossa
aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações". A atitude crítica
A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é,
um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e
às idéias da experiência cotidiana, ao que "todo mundo diz e
pensa", ao estabelecido. A
segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto
é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as idéias, os fatos, as
situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma
interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre
como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é?
Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica. A face negativa e
a positiva da atitude filosófica constituem a atitude crítica e pensamento
crítico. A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do
senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos
saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, afirmava que a
primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: "Sei que nada
sei". Para o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a
Filosofia começa com a admiração;
já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a Filosofia
começa com o espanto. Admiração e espanto
significam: tomamos distância do nosso mundo costumeiro, através de nosso
pensamento, olhando-o como se nunca o tivéssemos visto antes, como se não
tivéssemos tido família, amigos, professores, livros e outros meios de
comunicação que nos tivessem dito o que o mundo é; como se estivéssemos
acabando de nascer para o mundo e para nós mesmos e precisássemos perguntar o
que é, por que é e como é o mundo, e precisássemos perguntar também o que
somos, por que somos e como somos. A indagação Filosófica Basicamente, a filosofia, em suas diversas vertentes e
ocupações, se resume a algumas características comuns: ·
perguntar o que a coisa, ou o
valor, ou a idéia, é. A Filosofia pergunta qual é a realidade
ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa qual; ·
perguntar como a coisa, a
idéia ou o valor, é. A Filosofia indaga qual é a estrutura e
quais são as relações que constituem uma coisa, uma idéia ou valor; ·
perguntar por que a coisa, a
idéia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta pela
origem ou pela causa de uma coisa. de uma idéia, de um valor. A atitude filosófica inicia-se
dirigindo essas indagações ao mundo que nos rodeia e às relações que mantemos
com ele. Pouco a pouco, porém, descobre que essas questões se referem,
afinal, à nossa capacidade de conhecer, à nossa capacidade de pensar. Por
isso, pouco a pouco, as perguntas da Filosofia se dirigem ao próprio
pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? A Filosofia
torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo. Por ser uma volta
que o pensamento realiza sobre si mesmo, a Filosofia se realiza como reflexão. A
Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os
procedimentos e conceitos científicos. Ela é a mãe de todas às Ciências! Não é religião: é uma reflexão
crítica sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma
interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras
de arte e do trabalho artístico. Não
é sociologia nem psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica
dos conceitos e métodos da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão
sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é história, mas interpretação do sentido dos
acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o
próprio tempo. Conhecimento do
conhecimento e da ação humanos, da transformação temporal dos princípios
do saber e do agir, conhecimento da mudança das formas do real ou dos seres,
a Filosofia sabe que está na História
e que possui uma história. Elementos
Históricos e Conceituais Entre os antigos
gregos predominava inicialmente a consciência mítica, cuja maior expressão se
encontra nos poemas de Homero e Hesíodo. Quando se dá a passagem da
consciência mítica para a racional, aparecem os primeiros sábios, sophos,
como se diz em grego. Um deles, chamado Pitágoras, que também era matemático,
usou pela primeira vez a palavra filosofia, que significa "Amor à
sabedoria". É bom observar que a própria etimologia mostra que a
filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da
verdade. Para Platão, a
primeira virtude do filósofo é admirar-se. A admiração é a condição de
onde deriva a capacidade de problematizar, que marca filosofia não como posse
da verdade, mas como sua busca. Para Kant, filósofo alemão, "Não há
filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar". Isto
significa que a filosofia é, sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É
um conhecimento instituinte, no sentido de que questiona o saber e
instituído. Podemos definir filosofia como o estudo geral sobre a
natureza de todas as coisas e suas relações entre si; os valores, o sentido,
os fatos e princípios gerais da existência, bem como a conduta e destino do
homem. A Filosofia e a Ciência No seu começo, a
ciência estava ligada à filosofia, sendo o filósofo o sábio que refletia
sobre todos setores da indagação humana. Neste sentido, os filósofos Tales e
Pitágoras eram também geômetras, e Aristóteles escreveu sobre física e
astronomia. A partir do século 17, a revolução iniciada por Galileu Galilei
promove a autonomia da ciência e seu desligamento da filosofia. Pouco a
pouco, até o século 20, aparecem as chamadas ciências particulares (física,
astronomia, química, biologia, etc) delimitando um campo específico de
pesquisa. Ora, a filosofia
continua tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências. Apenas que as
ciências se especializam e observam recortes do real, enquanto a
filosofia jamais renuncia a considerar o seu objeto do ponto de vista da
totalidade. A filosofia ainda se diferencia da ciência pelo modo como trata
seu objeto: a filosofia está presente como reflexão crítica a respeito dos
fundamentos do conhecimento e do agir. Portanto, a filosofia não faz juízos
de realidade, como a ciência, mas juízos de valor. O filósofo parte da experiência
vivida, não se vê apenas como se é, mas como se deveria ser. A questão da Verdade Comecemos
distinguindo verdade e realidade. Na linguagem cotidiana, confundimos estes
conceitos. Se nos referimos a um colar, a um quadro, a um dente, só podemos afirmar
que são reais e não verdadeiros ou falsos. Para o filósofo Descartes, o
critério da verdade é a evidência. Evidente é toda idéia clara e distinta,
que se impõe imediatamente e por si só ao espírito. Trata-se de uma evidência
resultante da intuição intelectual. Para Nietzsche é verdadeiro tudo o que
contribui para fomentar a vida da espécie e falso tudo o que é um obstáculo
ao seu desenvolvimento. A verdade pode
ainda ser entendida como resultado do consenso, enquanto conjunto de crenças
aceitas pelos indivíduos em um determinado tempo e lugar e que os ajuda a
compreender o real e agir sobre ele. É difícil e complexa a discussão a
respeito dos critérios da verdade, mesmo porque são diferentes as posturas
que temos diante do real quando dispomos a compreendê-lo. O importante é entendermos que ninguém
possui a verdade absoluta, pois tudo depende do ponto de vista que se tome.
Como dizia Saint-Éxupery "A verdade para o homem é o que faz dele um
homem". O
Empirismo
Recebe
esta denominação a corrente de pensamento que procura fundar todo
conhecimento na noção de experiência. Deriva da palavra grega empeiría,
experiência. Em sentido amplo, pode-se compreender o empirismo como uma
tendência de interpretação da realidade e do conhecimento. Os principais representantes
do empirismo moderno são Francis Bacon, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume. O
empirismo inglês caracteriza-se por possuir aspectos, a um só tempo,
gnosiológicos e metafísicos: admite que o conhecimento radica na noção de
experiência, afirmando, simultaneamente, ser a experiência o modo como se
constitui a realidade mesma. Freqüentemente,
os empiristas associam a noção de experiência unicamente aos dados fornecidos
pelos sentidos. Desta forma, a tal compreensão corresponde, freqüentemente,
uma compreensão materialista da realidade, embora nem todo empirismo
gnosiológico conduza, necessariamente, a tal posição Metafísica. Racionalismo
Em
sentido geral, este termo designa o modo de pensamento que busca na razão o
fundamento de um conhecimento seguro da realidade, ou sua inteligibilidade
essencial. Este termo é formado a partir da palavra latina ratio, que
significa cálculo, conta, ordem, método, raciocínio. É
possível, neste sentido geral, distinguir entre racionalismo gnosiológico e
metafísico. O primeiro afirma ser a razão a faculdade na qual radica todo
conhecimento e certeza. O segundo afirma a racionalidade intrínseca à
realidade, baseado em um pensamento que postula a identidade essencial entre
ser e pensar, que torna todo existente redutível a leis racionais. O
racionalismo somente atinge seu pleno desenvolvimento na Modernidade. Neste
período da história da filosofia, que possui como característica principal à
necessidade de colocação de um método seguro de busca de certeza elege-se a
razão, compreendida enquanto faculdade autônoma e abstrata que procede
dedutivamente, como critério exclusivo de verdade. Dogmatismo e Ceticismo É possível conhecer
a verdade? Para tal pergunta, há duas respostas radicais: o ceticismo, que
afirma a impossibilidade o de se conhecer a verdade, e o dogmatismo, que diz
o contrário. Podemos definir ceticismo
com a doutrina segundo a qual o espírito humano não pode conhecer com
certeza; e conclui pela suspensão do juízo e pela dúvida permanente. Para os céticos, o conhecimento verdadeiro,
certo e definitivo sobre algo pode ser buscado. No entanto, jamais será
atingido. Podemos definir como dogmatismo toda atitude de conhecimento que
consiste em acreditar estar de posse da certeza o da verdade antes de fazer a
crítica da faculdade de conhecer. Contrariamente ao ceticismo, o dogmatismo
defende a existência de verdades absolutas e indiscutíveis. Dessa forma, a
adesão incondicional a princípios tidos como um irrefutáveis, bem como a
imposição de doutrinas não comprovadas de modo algum, são traços
característicos aqueles que aderem ao dogmatismo. O ceticismo e o dogmatismo,
embora sejam posturas antagônicas, compartilham uma visão imobilista do
mundo: ou dogmatismo atingiu uma certeza e nela permanece, o ceticismo anseia
pela certeza e decide que ela é inalcançável. |
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RESPONDER
(1º ANO) ATD
– TIPO – 2 (NÚCLEO ESPECÍFICO)
Leitura e Análise de Texto: 1 – De acordo com os Textos, o que significa reflexão
crítica? 2 – O que é uma atitude filosófica? Exemplo. 3 – Explique à importância do olhar filosófico na
construção do conhecimento (epistemologia). 4 – Quais são as caracteristicas da Indagação Filosófica? 5 – Explique à relação Filosofia e Ciência, do ponto de
vista epistemológico e quais os motivos do cisma entre ambas. 6 – Defina Epirismo e quais os filósofos responsáveis. (?) 7 – Como se fortaleceu o Racionalismo e quais os espaços
conquistados na História da Filosofia? 8 – Como é possível conhecer à verdadeira natureza da verdade?
Explique o antagonismo entre Dogmatismo e Ceticismo. |