sexta-feira, 8 de maio de 2020

NÚCLEO ESPECÍFICO: FILOSOFIA - 3 ANO / 3 TERMO ENSINO MÉDIO

1º BIMESTRE 

NÚCLEO ESPECÍFICO


   3/SÉRIE E/M e

    3/TERMO EJA 

DISCIPLINA: FILOSOFIA

 

 CONTEÚDOS:

 

Núcleo Específico

O que é Filosofia - Superação de preconceitos em relação à Filosofia e definição e importância para a cidadania

O homem como ser de natureza e de linguagem

 

Leitura e Análise de Texto

 

Preconceito e Filosofia

 

            Se fizermos uma rápida pesquisa com as pessoas à nossa volta, indagando o que elas pensam da Filosofia, muito provavelmente ouviremos opiniões diversas. Umas dirão, por exemplo, que a Filosofia é algo muito difícil e que, por isso mesmo, só pode ser praticada por pessoas de inteligência privilegiada, sendo inacessível aos “simples mortais”; outras responderão que a Filosofia é coisa de gente doida, que vive no mundo da Lua e que só se preocupa com assuntos abstratos, e que ela, a Filosofia, nada tem a ver com a vida prática; outras, ainda, concordando com estas últimas, emendarão que a Filosofia, por não ter uma aplicação prática imediata, não serve para nada.

            Pode ser que alguém, remando contra toda essa maré de opiniões pejorativas a respeito da Filosofia, arrisque-se a dizer que a considera uma matéria linda, já que permite o contato com o pensamento dos filósofos, expresso em frases de rara profundidade e beleza, ainda que, por vezes, incompreensíveis; por fim, certamente haverá também aqueles que confessarão, com algum sarcasmo ou menosprezo, não ter a menor ideia do que seja a Filosofia.

            Todas essas opiniões, na realidade, são, pelo menos em certa medida, expressão de um preconceito em relação à Filosofia. Por que preconceito? Porque, em geral, são opiniões emitidas apressadamente, sem a preocupação de se examinar com o devido cuidado o assunto sobre o qual se está opinando a fim de conhecê-lo melhor. Afinal, é justamente isso que caracteriza o preconceito. Sempre que adotamos tal postura, corremos mais seriamente o risco de nos enganar em nosso julgamento e até de cometer injustiças com as pessoas. Filosofia, 2015/Vol.1, p.6.

 

 

 

 

Leitura e Análise de Texto

 

Tales de Mileto: o distraído O preconceito e a hostilidade em relação à Filosofia não são algo novo, recente, mas, ao contrário, remontam às origens da Filosofia na Grécia Antiga. Talvez o registro mais antigo desse preconceito seja aquele de que foi vítima Tales de Mileto, que viveu no século VII a.C. e é considerado o primeiro filósofo da história. A respeito dele contava-se a seguinte anedota, bastante difundida na Grécia Antiga e recuperada por Platão em sua obra Teeteto1 : Tales era tão interessado no estudo dos astros que costumava caminhar olhando para o céu. Certo dia, absorto em seus pensamentos e raciocínios, acabou tropeçando e caindo em um poço, sendo motivo de riso e caçoada para uma escrava que ali se encontrava. Espalhou-se, então, o boato de que Tales se preocupava mais com as coisas do céu, esquecendo-se das que estavam debaixo de seus pés. “Essa pilhéria”, adverte Platão, “se aplica a todos os que vivem para a Filosofia.”2 Essa imagem de um homem distraído e trapalhão, porém, não parece condizer com a verdade sobre Tales, que, ao que tudo indica, era uma pessoa bem esperta, viva e inteligente. É o que se conclui, por exemplo, de outra anedota contada sobre ele, registrada por Aristóteles em sua obra A política e atribuída a Tales por causa de sua sabedoria: “Como o censuravam pela pobreza e zombavam de sua inútil filosofia, o conhecimento dos astros permitiu-lhe prever que haveria abundância de olivas. Tendo juntado todo o dinheiro que podia, ele alugou, antes do fim do inverno, todas as prensas de óleo de Mileto e de Quios. Conseguiu-as a bom preço, porque ninguém oferecera melhor e ele dera algum adiantamento. Feita a colheita, muitas pessoas apareceram ao mesmo tempo para conseguir as prensas e ele as alugou pelo preço que quis. Tendo ganhado muito dinheiro, mostrou a seus amigos que para os filósofos era muito fácil enriquecer, mas que eles não se importavam com isso. Foi assim que mostrou sua sabedoria.”3 Na verdade, Tales deve ter gozado de grande prestígio em sua época. Tanto que passou para a posteridade como um dos sete sábios da Grécia4 : na política, empenhou-se em organizar as cidades gregas da Jônia para enfrentar a ameaça dos persas; como engenheiro, quis desviar o curso de alguns rios para fins de navegação e irrigação; como pesquisador, investigou as causas das inundações do rio Nilo, rompendo com as explicações míticas que se davam para elas; como astrônomo, previu um eclipse solar e descobriu a constelação denominada Ursa Menor; como matemático e geômetra, teria descoberto um método para medir a altura de uma pirâmide do Egito, do qual teria derivado o famoso “teorema de Tales”. Além disso, não podemos esquecer que Tales foi, segundo Aristóteles, o primeiro a dar uma resposta racional, isto é, sem recorrer aos mitos, para a pergunta que mais incomodava os primeiros filósofos (os chamados pré-socráticos ou filósofos físicos): Qual era o elemento primordial que dava origem a todas as coisas? Para Tales esse elemento era a água, por ela estar presente nos alimentos necessários à vida, pelo fato de as coisas vivas serem úmidas, enquanto as mortas ressecam e porque a Terra repousa sobre as águas. Daí sua conclusão de que ela deve ter sido o elemento primordial. Vemos, portanto, que Tales, ao contrário do que sugere a primeira anedota, não tinha nada de lunático, distraído e desligado dos problemas concretos. Pôs toda a sua inteligência, curiosidade e criatividade a serviço da busca de soluções para eles, sobretudo aqueles mais importantes e urgentes em sua época. Eis por que a tal anedota revela, de fato, um preconceito, isto é, um conceito precipitado e desprovido de fundamentação. 1 PLATÃO. Diálogos. Teeteto/Crátilo. Tradução Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora Universitária UFPA, 2001. p. 83 [174a]. 2 Idem. 3 ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 30. 4 De fato, atribuem-se a ele inúmeros feitos importantes, como revela a professora e filósofa Marilena Chaui, em Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 55. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

 

 

Leitura e Análise de Texto

 

Sócrates: aquele que vive nas nuvens Outra célebre vítima do preconceito e da intolerância contra a Filosofia foi Sócrates. E neste caso as consequências foram muito mais sérias, visto que o levaram à morte. Na realidade, não há uma imagem única de Sócrates. Isso porque todas as informações que temos dele nos chegaram por testemunhos indiretos, já que ele mesmo nada escreveu. Assim, enquanto seus amigos, admiradores e discípulos, como Xenofonte e Platão, por exemplo, o viam como sábio, patriota, respeitador das leis e da religião, piedoso, justo, valoroso como guerreiro nas batalhas etc., seus críticos o retratavam como uma pessoa esquisita, deslocada, excêntrica, charlatã, corruptor de jovens e ímpio. De todos esses testemunhos pouco elogiosos sobre Sócrates, sem dúvida o mais significativo que chegou até nós foi a imagem dele traçada por Aristófanes1 na comédia As nuvens.

Neste texto, aparece um Sócrates “se movendo livremente, proclamando que caminhava no ar e dizendo uma plêiade de outras tolices” das quais não entende nada2 . É um Sócrates mestre dos sofistas, isto é, charlatão, enganador e que ensinava às pessoas a arte desse engano. Aliás, essa imagem dos sofistas também era, em boa medida, preconceituosa. Na peça de Aristófanes, ele surge em cena empoleirado em uma cesta suspensa no ar, significando que ele vivia nas alturas, preocupado com questões de cosmologia e de astronomia (movimento dos astros, origem do universo etc.), ou com assuntos sem a menor relevância, como a medida do pulo de uma pulga, ou se o zumbido de um mosquito é produzido por sua tromba ou seu traseiro, ficando totalmente alheio aos problemas realmente importantes da vida dos cidadãos de Atenas. A certa altura, um dos discípulos conta que, certa vez, “uma lagartixa atrapalhou uma indagação transcendental” de Sócrates. Isso aconteceu, segundo o relato, quando ele “observava a lua para estudar o curso e as evoluções dela, no momento em que ele olhava de boca aberta para o céu, do alto do teto uma lagartixa noturna, dessas pintadas, defecou na boca dele”3 . Essa imagem depreciativa e até cômica de Sócrates provavelmente revela a ideia que a maioria das pessoas tinha a respeito dele e dos filósofos em geral. No entanto, é uma imagem bastante distorcida. Na realidade, Sócrates e os sofistas inauguram um novo período na história da Filosofia em que a reflexão filosófica se desloca da cosmologia e da física (princí- pio que dá origem a todas as coisas) para as questões relativas à vida concreta na cidade (pólis), isto é, à política, à ética, ao conhecimento. Os assuntos que ele gostava de abordar eram a justiça, a beleza, a coragem, o amor, a educação, entre outros. Vem daí, aliás, a denominação de pré-socráticos atribuída aos filósofos anteriores a ele. Não tanto por razões de cronologia, mas principalmente pela diferença quanto aos temas da reflexão filosófica. Além disso, no que se refere aos sofistas, Sócrates tinha, certamente, muito mais diferenças e mesmo divergências com eles do que semelhanças. Enquanto os sofistas se apresentavam como sábios, isto é, pessoas entendidas em diversos assuntos, especialmente na técnica da retórica, Sócrates dizia: “Sei que nada sei”; enquanto os sofistas cobravam pelos ensinamentos que ministravam, Sócrates condenava essa prática e filosofava com as pessoas gratuitamente na praça (ágora) de Atenas; enquanto os sofistas eram céticos em relação à possibilidade de se conhecer a verdade universal, Sócrates a perseguia incansavelmente; enquanto os sofistas contentavam-se com a opinião (doxa), Sócrates exigia o saber verdadeiro (episteme).

A respeito dos sofistas, diz Sócrates ironicamente por ocasião de seu julgamento: “Cada um desses homens [...] é capaz de dirigir-se a qualquer cidade e persuadir os jovens, Filosofia - 3a série - Volume 1 14 • Discuta com seus colegas as seguintes questões: 1. A comédia e o humor podem ser formas de propagação de preconceitos? Justifique sua resposta e, se possível, dê exemplos. 2. Essas formas de manifestação artística e cultural são importantes para a democracia? Justifique. 3. Você vê alguma semelhança entre o papel da comédia no tempo de Sócrates e o dos programas humorísticos atuais? Dê exemplos e comente. os quais podem se associar, segundo queiram, com qualquer de seus concidadãos sem pagar, a deixar a companhia dessa pessoa para se juntarem a ele, remunerá-lo e, além disso, mostrar-lhe gratidão”4

Vemos, assim, que a imagem de Sócrates traçada por Aristófanes, procurando retratá-lo como alguém que anda nas nuvens, preocupado com assuntos alheios ao cotidiano das pessoas e identificado com os sofistas, não corresponde à verdade sobre ele. Ao contrá- rio, baseia-se em um preconceito, a exemplo do que ocorrera com a anedota sobre Tales. É interessante observar que em seu julgamento Sócrates faz menção à comédia de Aristófanes (As nuvens) como um dos fatores que provocaram as acusações contra ele.5 1 ARISTÓFANES. As nuvens; Só para mulheres; Um deus chamado dinheiro. Tradução Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p. 11-101. 2 PLATÃO. Apologia de Sócrates. Diálogos socráticos III. Tradução Edson Bini. São Paulo/Bauru: Edipro, 2008. p. 139-140 [19 c]. 3 ARISTÓFANES. Op. cit. p. 21. 4 PLATÃO. Op. cit. p. 140 [19 e–20a]. 5 Idem, p. 139 [19c]. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

 

Leitura e Análise de Texto

 

A morte de Sócrates De acordo com Platão, as acusações contra Sócrates foram: “Sócrates é réu por empenhar-se com excesso de zelo, de maneira supérflua e indiscreta, na investigação de coisas sob a terra e nos céus, fortalecendo o argumento mais fraco e ensinando essas mesmas coisas a outros.”1 “Sócrates é réu porque corrompe a juventude e descrê dos deuses do Estado, crendo em outras divindades novas.”2 Levado a julgamento, foi condenado à morte. Como e por que isso ocorreu? Tudo começou quando Sócrates tomou conhecimento de que o oráculo do templo de Delfos, dedicado ao deus Apolo, havia proclamado que ele era o homem mais sábio de Atenas. Não se considerando como tal, mas, ao mesmo tempo, não podendo duvidar da palavra do deus, decidiu investigar o significado de tal revelação. Procurou, então, aqueles cidadãos mais ilustres de Atenas e que eram tidos como os mais sábios da cidade. Eles pertenciam a três categorias sociais: os políticos, os poetas (autores de tragédias, como Aristófanes, e de ditirambos – cantos religiosos em homenagem ao deus Dionísio) e os artesãos. Interrogando esses cidadãos (por meio de seu método dialético), constatou que, na realidade, nada sabiam dos assuntos em que eram tidos como sábios. Ao término da conversa com cada uma dessas pessoas Sócrates concluía:

“Sou mais sábio do que esse homem; nenhum de nós dois realmente conhece algo de admirável e bom, entretanto ele julga que conhece algo quando não conhece, enquanto eu, como nada conheço, não julgo tampouco que conheço. Portanto, é provável, de algum modo, que nessa modesta medida seja eu mais sábio do que esse indivíduo – no fato de não julgar que conheço o que não conheço”3 . Daí a famosa expressão atribuída a Sócrates: “Sei que nada sei”. Acontece que Sócrates praticava esses diálogos em praça pública, à vista de todos. Dentre os presentes havia sempre muitos jovens, filhos de famílias ricas, que dispunham de tempo livre (já que não precisavam trabalhar) e, por isso, podiam acompanhá-lo nessas ocasiões. Eles se divertiam vendo Sócrates “desbancar” os que se julgavam sábios e, mais tarde, punham-se a imitá-lo, interrogando outras pessoas e descobrindo muitas que supunham saber o que de fato não sabiam. Essas pessoas, que em geral eram gente importante e de prestígio na cidade, sentindo-se constrangidas, tornavam-se furiosas não contra esses jovens, mas contra aquele que consideravam responsável por tê-los ensinado tal comportamento; e passavam a propagar que: “Sócrates é o mais pestilento dos indivíduos e está corrompendo a juventude”. Na verdade, quando indagadas, tais pessoas não conseguiam provar tal acusa- ção. Mas para esconder seu constrangimento, lançavam mão daquelas acusações que sempre são usadas contra todo “filósofo, ou seja, que [ensina] ‘as coisas no ar e as coisas sob a terra’ e ‘não crê nos deuses’, e ‘torna mais forte o argumento mais fraco’.”4 Esta é a origem das “inimizades, a um tempo implacáveis e aflitivas”, do ódio, das “calúnias” e das acusações contra Sócrates5 e que acabaram por levá-lo à morte. No fundo, Sócrates foi condenado porque, na democracia ateniense, os assuntos mais importantes da vida da cidade eram decididos em assembleias (ekklesía) nas quais cada cidadão podia expressar livremente sua opinião a favor ou contra uma determinada posi- ção. Era, pois, um regime político sustentado pela crença no valor das opiniões. Ora, o que Sócrates fazia com sua dialética era justamente pôr em cheque as opiniões, mostrando que, muitas vezes, elas refletiam um conhecimento falso sobre o assunto em questão. Assim, para as pessoas importantes da cidade que costumavam discursar nessas assembleias, a “má” influência de Sócrates, sobretudo sobre os jovens, representava uma ameaça ao sistema democrático do qual se beneficiavam. Eis aí a natureza política da condenação de Sócrates. 1 PLATÃO. Apologia de Sócrates. Diálogos socráticos III. Tradução Edson Bini. São Paulo/Bauru: Edipro, 2008. p. 139 [19 b-c]. 2 Idem, p. 146 [24 c]. 3 Idem, p. 142-143 [21 d]. 4 Ibidem, p. 145 [23 d]. 5 Ibidem, p. 144 [ 23 a].

 

Todos os homens são “Filósofos”

 

Antônio Gramsci, um filósofo italiano do século passado, já alertava para a necessidade de se combater o preconceito muito difundido de que a Filosofia é uma atividade intelectual muito difícil e, por isso, restrita a uma minoria de inteligência supostamente privilegiada. Isto porque, para ele, em um certo sentido, “todos os homens são ‘filósofos’, pois, de algum modo, todas as pessoas, sem distinção, independente de seu grau de escolaridade, lidam, convivem, trabalham com a Filosofia e a utilizam no seu dia a dia, mesmo que não se apercebam disso. Afinal, a Filosofia está presente “na linguagem, no senso comum, no bom senso, na religião,” enfim, “em todo sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ser e agir” que caracteriza o que convencionalmente se denomina de “folclore” e do qual todos participam.

A Filosofia está presente na linguagem porque esta não é pura e simplesmente um amontoado de “palavras gramaticalmente vazias de conteúdos”. Ao contrário, ela é um “conjunto de noções e conceitos determinados”, muitos dos quais derivados da Filosofia, como vimos nas frases apresentadas. Portanto, a Filosofia está presente na linguagem que utilizamos, mesmo que não tenhamos consciência disso. Daí por que, Gramsci: “Linguagem significa também cultura e Filosofia (ainda que no nível do senso comum)”.

O senso comum – é o conjunto de valores, crenças, opiniões, preferências, que constitui a nossa visão de mundo e que orienta nossas ações e escolhas cotidianas. Em geral é assimilado acriticamente, sem qualquer questionamento. A exemplo do que acontece com a linguagem, muitos desses valores e crenças têm origem na Filosofia, mas nós os assimilamos espontaneamente, sem nos darmos conta de sua origem. Simplesmente pensamos e vivemos de uma determinada maneira, acreditamos em certo grupo de valores, defendemos alguma posição politica, ideológica ou religiosa, E assim por diante, sem, no entanto, nos preocuparmos em fundamentar nossas opiniões. Ao contrário, contentamo-nos com argumentos superficiais, muitas das vezes até inconsistentes ou contraditórios.

O “bom senso” -, por sua vez, “coincide com a Filosofia”. Enquanto o senso comum é acrítico, espontâneo, irrefletido, o bom senso implica refletir, tomar consciência de que os acontecimentos possuem uma dimensão racional e que, portanto, devem ser compreendidos e enfrentados também de forma racional, a fim de se obter uma orientação consistente para a ação, evitando se deixar levar por “impulsos instintivos e violentos”. 

Esse “bom senso” é o que Gramsci chamou de “núcleo sadio do senso comum”. Ou seja, mesmo no nível do senso comum é possível refletir, pensar de maneira crítica sobre a realidade, tomar consciência dela e agir de modo coerente com nossa consciência. E isso, de certo modo, já é “filosofar”, pelo menos um filosofar ao nível do senso comum. De fato, não é raro vermos pessoas simples, às vezes com pouca ou nenhuma escolaridade, que revelam um entendimento aguçado e bem elaborado da realidade em que vivem.

Finalmente, a Filosofia está presente na religião porque também na experiência religiosa nos deparamos com questões e conceitos (Deus, alma, justiça, bem, mal, morte, belo, virtude, amor, virtude, etc.), que foram e continuam sendo objeto da reflexão e da elaboração dos filósofos.

Portanto, se a Filosofia está contida na linguagem, no senso comum, no bom senso e na religião, podemos dizer então que ela está presente em todas as dimensões da vida humana, sendo, portanto, familiar a todas as pessoas. Afinal, toda atividade humana, mesmo aquelas que são predominantemente práticas (as diversas formas de trabalho manual, por exemplo), é sempre acompanhada de um pensar, de um saber, em suma, de um trabalho intelectual, racional, reflexivo. É nesse sentido que podemos afirmar que “todos os homens são filósofos”. Filosofia, 2015/Vol.1, p.24.

 

Leitura e Análise de Texto

 

Filósofos e “philósophos

 

Se “todos os homens são ‘filósofos’”, como quer Gramsci, qual é, então, a diferença entre o filosofar de uma pessoa comum e o de um filósofo profissional ou especialista? O próprio autor esclarece:

“O filósofo profissional ou técnico não só ‘pensa’ com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe as razões do desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de retornar os problemas a partir do ponto em que eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de solução etc. Ele tem, no campo do pensamento, a mesma função que nos diversos campos científicos têm os especialistas.”

Trocando em pequenas partes, podemos dizer que o filósofo especialista: pensa, reflete, raciocina observando mais cuidadosamente as regras e os procedimentos metodológicos que utiliza; conhece a história do pensamento, isto é, a história da Filosofia; é capaz de analisar os problemas de seu tempo à luz da contribuição dos filósofos do passado que já se debruçaram sobre eles.

Mas se existe essa diferença entre o filósofo especialista e o não especialista, por que então afirmar que “todos os homens são ‘filósofos’”? Justamente para combater e destruir aquele preconceito de que a Filosofia é uma atividade muito difícil e restrita a uma minoria.

É importante perceber que a propagação desse preconceito cumpre uma função política conservadora, na medida em que afasta a Filosofia do contato com as massas, com o povo, com as pessoas mais simples. Dessa forma, impedidas de se apropriar dos conceitos e das teorias elaboradas pelos filósofos, as pessoas ficam desprovidas dessas ferramentas intelectuais que lhes permitiriam superar mais facilmente o senso comum e adquirir um conhecimento mais crítico e elaborado da realidade em que vivem.

Além disso, cabe afirmar que todos os homens são “filósofos” para deixar claro que todas as pessoas são predominantemente capazes de avançar de um “filosofar” espontâneo e assistemático, restrito ao bom senso, para um filosofar mais elaborado e rigoroso, semelhante ao praticado pelos filósofos especialistas. Filosofia, 2015/Vol.1, p.28.

 

Leitura e Análise de Texto

 

O que é, afinal, a Filosofia? Comecemos pela origem da palavra. Filosofia vem do grego (philo = amigo ou amante + sophia = saber, sabedoria) e significa amor ou amizade pelo saber. Quem ama sente-se

carente do objeto amado e, por isso, vai à sua procura. No caso do filósofo, como o objeto de seu desejo é o saber, o conhecimento, é este que ele busca. Para explicar o sentido dessa atitude de busca do saber, própria da Filosofia, Platão, em sua obra O banquete, recria, pela boca de Sócrates, o mito do nascimento do Amor. Quando nasceu Afrodite, conta Sócrates, os deuses deram um banquete para celebrar a ocasião. Entre eles, encontrava-se também Recurso, filho de Prudência. Quando o jantar terminou, Pobreza chegou e postou-se à porta para esmolar. Recurso havia se embriagado e, dirigindo-se ao jardim de Zeus, adormeceu. Pobreza, aproveitando-se da situação, deitou-se ao seu lado e concebeu o Amor. Assim, gerado no dia do nascimento de Afrodite, Amor tornou-se seu companheiro e servo e, ao mesmo tempo, amante do belo, pois Afrodite é bela. Por ser filho de Pobreza e Recurso, ele é, por parte de mãe, “sempre pobre”, carente e padecedor de muitas necessidades; por parte de pai, porém, “ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista.”1 Por essa sua natureza dividida, Amor está no meio entre a sabedoria e a ignorância. A sabedoria é a condição daquele que já possui o saber e, por isso, não sente necessidade de buscá-lo. É o caso dos deuses. Por isso os deuses não filosofam. Os ignorantes, por sua vez, embora nada saibam, julgam saber o suficiente e, por isso, não anseiam por saber mais. Logo, também não filosofam.

Quem então filosofa?, pergunta Sócrates. Aqueles que estão entre esses dois extremos: a sabedoria e a ignorância. Um deles é o Amor. “Com efeito, uma das coisas mais belas é a sabedoria, e o Amor é amor pelo belo, de modo que é forçoso o Amor ser filósofo e, sendo filósofo, estar entre o sábio e o ignorante. E a causa dessa sua condição é a sua origem: pois é filho de um pai sábio e rico e de uma mãe que não é sábia, e pobre.”2 Mas o saber que o filósofo almeja não é de um tipo qualquer. Não é, por exemplo, aquele do senso comum que se expressa como opinião e ao qual os gregos antigos denominavam doxa. O saber buscado pelo filósofo é sophia, isto é, um saber bem fundamentado, amparado em demonstrações racionais consistentes e passível de ser considerado verdadeiro, independentemente das opiniões particulares. O mesmo tipo de saber buscado por Sócrates por meio de seu método dialético. Não fosse assim o termo philosopho (amante do saber) deveria ser substituído por philodoxo (amante da opinião).

1 Platão. O banquete. Rio de Janeiro: Difel. 1983. p. 35. 2 Idem, p. 36. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

 

Leitura e Análise de Texto

 

A Filosofia como reflexão

Vimos que etimologicamente a palavra filosofia significa busca do conhecimento verdadeiro, ou seja, busca da verdade. A forma pela qual a Filosofia realiza essa busca da verdade é por meio da reflexão. Mas o que é refletir? Como nos lembra o professor Dermeval Saviani1 : “se toda reflexão é pensamento, nem todo pensamento é reflexão”. O pensamento é um ato corriqueiro, singelo, espontâneo, que realizamos descompromissadamente a todo instante, até mesmo sem perceber. A reflexão, por sua vez, é uma atitude mais consciente, mais comprometida, que implica pensar mais profundamente sobre um determinado assunto, repensá-lo, problematizá-lo, submetendo-o à dúvida, à crítica, à análise, buscando seu verdadeiro significado.

Assim, o pensamento pode ser reflexivo ou não. Acontece que nem toda reflexão é filosófica. Segundo Saviani, para isso ela precisa satisfazer, ao mesmo tempo, a pelo menos três exigências: • ser radical, isto é, analisar em profundidade o problema em questão, buscando chegar às suas raízes, aos seus fundamentos; • ser rigorosa, ou seja, proceder com coerência, de forma sistemática, segundo um método bem definido para propiciar conclusões válidas e bem fundamentadas; • e ser de conjunto, isto é, tomar o objeto em questão não de forma isolada e abstrata, mas numa perspectiva de totalidade, ou seja, levando em consideração os diversos fatores que, num dado contexto, o determinam e condicionam. Além disso, vale lembrar que filosofar implica questionar o senso comum. Para tanto, é preciso utilizar certos conceitos e teorias necessários para a compreensão mais aprofundada dos temas e problemas sobre os quais se vai refletir. Ora, como estes conceitos e teorias estão contidos nas obras dos filósofos, é importante estudar tais obras, não para memorizar mecanicamente, mas para compreendê-las e a partir desta compreensão questionar o senso comum e transformar nossas representações primeiras sobre diferentes temas da vida cotidiana, da vida em sociedade. Mas, ao entrarmos em contato com a obra de um filósofo, não apreendemos apenas os conceitos por ele desenvolvidos. Apreendemos também o seu jeito de pensar, de raciocinar, de argumentar, de organizar as ideias, enfim, o seu “estilo reflexivo”2 , o que também nos ajuda a melhorar cada vez mais nosso próprio jeito de pensar. É dessa forma, estudando o pensamento dos filósofos e nos exercitando mais e mais na prática da reflexão, que nos tornamos cada vez mais filósofos. 1 SAVIANI, Demerval. A filosofia na formação do educador. In: _____. Educação: Do senso comum à consciência filosófica. Campinas: Autores Associados, 2007. p. 20. . 2 SÃO PAULO (Estado), Secretaria da Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Proposta Curricular para o Ensino de Filosofia: 2o Grau. São Paulo: SE/CENP, 1992 (2a versão preliminar). Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

 

Leitura e Análise de Texto

 

Para que serve a Filosofia? Qual é sua utilidade? Para responder a essa pergunta precisamos antes fazer algumas outras: O que entendemos por útil? Quem nos dá os critérios a partir dos quais consideramos algumas coisas úteis e outras inúteis? Conhecemos de fato esses critérios? Paramos para pensar sobre eles? Tomamos conscientemente a decisão de aceitá-los? Por que perguntamos sobre a utilidade de certas coisas e não de outras? Haveria pessoas ou grupos interessados em mostrar algumas coisas como úteis e outras como inúteis? Quando dizemos que, para nós, uma determinada coisa não serve para nada, estamos expressando um conhecimento efetivo sobre essa coisa ou, na verdade, apenas reproduzimos a “opinião” geral, o “senso comum”, a visão hegemônica a respeito dela? Estamos agindo com autonomia e liberdade? Poderíamos formular ainda inúmeros outros questionamentos derivados daquele inicialmente apresentado. E, ao fazê-lo, já estaríamos nos situando dentro da Filosofia, isto é, já estaríamos, num certo sentido, filosofando. Afinal, filosofar é, também, não aceitar como verdadeira qualquer ideia sem antes submetê-la à dúvida, à investigação, à reflexão crítica e rigorosa. Ora, isso significa que, para demonstrar com consistência a utilidade ou inutilidade da Filosofia, ou de qualquer outra coisa, já teríamos que filosofar. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. “[...] é preferível ‘pensar’ sem disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto é, ‘particular’ de uma concepção do mundo ‘imposta’ mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos vários grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente [...] ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira crítica e consciente e, portanto, em ligação com este trabalho próprio do cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?” GRAMSCI, A. Caderno 11 (1932-1933). Introdução ao estudo da Filosofia. In: Cadernos do cárcere; Vol. 1. Edição Carlos Nelson Coutinho com Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 93-94.

ARISTÓFANES. As nuvens; Só para mulheres; Um deus chamado dinheiro. Tradu- ção Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. A obra traz as três comédias indicadas no título, antecedidas por uma introdução, escrita pelo tradutor, na qual este apresenta sucintamente o enredo desses textos. • ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 1998. A passagem referente à anedota sobre Tales encontra-se no capítulo II do Livro I, dedicado à propriedade e aos meios de adquiri-la. • ______. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1972. • CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. Esta obra pode ser de grande ajuda, particularmente os capítulos 2 e 3, intitulados, respectivamente, Os pré-socráticos e Os sofistas e Sócrates: o humano como tema e problema. • HUISMAN, Denis. Dicionário dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. • PLATÃO. Apologia de Sócrates. In: Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1972. (Os Pensadores). Esta obra é fundamental para a discussão sobre o preconceito contra Sócrates e a intolerância com ele. Você pode, inclusive, extrair dela outras passagens que considerar adequadas para aprofundar a discussão ou mesmo estimular os alunos a lê-la por completo. • PLATÃO. O banquete. Rio de Janeiro: Difel, 2008. • ______. Fedro. São Paulo: Martin Claret, 2002. • Pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1985. (Os pensadores). • SÃO PAULO (Estado), Secretaria da Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Proposta Curricular para o Ensino de Filosofia: 2o Grau. São Paulo: SE/CENP, 1992 (2a versão preliminar).

 

 

Homem e linguagem segundo Gadamer



O presente artigo terá por objetivo falar sobre o tema da linguagem, conforme compreendida no pensamento de Gadamer, como o ponto central do ser humano. Então, ao propor este tema é necessário que se fale, também, sobre o homem, uma vez que a linguagem só pode existir por causa do homem e para o homem. Neste sentido, Aristóteles classifica o homem como o ser vivo que possui “logos” (zoón logikón) sendo essa definição canonizada na tradição ocidental com a forma de que o homem é o animal racional, o ser vivo racional, o ser que se distingue de todos os outros animais pela capacidade de pensar. Porém, a palavra “logos”, em sua origem, se expressa no sentido de razão, pensar, mas significa também linguagem. Ao definir o homem como zoón logikón, Aristóteles estabelece uma diferença entre o homem e o animal. Os animais possuem a capacidade de se entenderem mutuamente agindo de acordo com seus instintos sendo a eles permitido pela sua natureza chegarem somente a esse ponto. Ao contrário, ao homem foi dada a capacidade do “logos”, isto é, o homem é o único ser que possui a capacidade de raciocinar, pensar e falar. Por meio desta capacidade ele consegue dominar os seus instintos. “Pela fala o homem tem a capacidade de comunicar tudo o que pensa”[1]. Falar aparece aqui no sentido de tornar visível ao outro, pela sua fala, algo que esteja ausente de modo que o outro também possa vê-lo. No entanto, a linguagem não constitui o ponto central do pensamento filosófico do ocidente. Embora o Antigo Testamento chame a atenção para o fato de Deus ter entregado ao homem o domínio do mundo dando-lhe poder para nomear os seres como melhor lhe conviesse, fora “justamente a tradição religiosa do Ocidente cristão a principal e única responsável pela paralisação do pensamento acerca da linguagem.”[2]

 

Na época do Iluminismo a pergunta pela origem da linguagem segue um novo sentido. A partir daí, a linguagem passa a ser respondida não mais pelo relato da perspectiva histórica da criação, mas a partir da própria natureza do homem. O que definiu este novo horizonte da linguagem foi admitir no homem uma faculdade esclarecedora do regimento estrutural, a qual nós chamamos de gramática, sintaxe, vocabulário da linguagem. Com esse modo de pensar, o fenômeno da linguagem adquire o significado de um campo de expressão eminente, no qual é possível estudar a essência do homem e sua evolução na história. No entanto, por esta via, não é possível penetrar nos postulados centrais do pensamento filosófico porque a definição cartesiana de consciência como autoconsciência encontra-se no pano de fundo de todo pensamento moderno. E na filosofia contemporânea a filosofia da linguagem chega a seu ápice. Segundo Gadamer, “a palavra “logos” significa não apenas pensamento e linguagem, mas também conceito e lei”[3], ou seja, o conceito da linguagem pressupõe uma consciência da liguagem que quer dizer um movimento reflexível no qual o sujeito pensante reflete a partir da realização inconsciente da linguagem. O verdadeiro enigma da linguagem, porém, é que isso jamais se deixa alcançar plenamente. “Todo pensar sobre a linguagem, pelo contrário, já foi sempre alcançado pela linguagem”[4].



Nos nossos pensamentos e conhecimentos somos sempre precedidos pela interpretação do mundo feita por meio da linguagem. Nesse sentido, a linguagem expressa nossa real e verdadeira finitude. Todo indivíduo, porém, quando se expressa ou fala não possui uma verdadeira consciência daquilo que está expressando, falando. Quando temos em mente algo para dizer e nos vem à memória uma palavra que soa estranha, nos perguntamos: “pode-se dizer isso?”. É nesse momento que a linguagem que falamos torna-se consciente por não fazer o que é “seu próprio”. Para entedermos o que seria esse “seu próprio” é necessário, pois, dividí-lo em três apectos:

 

O primeiro é o esquecimento de si mesmo de que advém a linguagem. A linguagem viva não tem consciência de sua própria estrutura, gramática, sintaxe, etc., isto é, de tudo aquilo que a linguagen tematiza. Mas “o verdadeiro sentido da linguagem é aquilo que adentramos quando a ouvimos: o dito”[5]. O segundo é a ausência de um eu. Nesse sentido, o falar não pertence ao eu, mas a nós, pois quem fala uma língua que ninguém compreende, simplesmente não fala nada. Falar significa falar a alguém. A palavra quer ser palavra que vai ao encontro de alguém. A realidade do falar consiste no diálogo. E o terceiro aspecto pode-se chamar de universalidade da linguagem. A linguagem não constitui um âmbito fechado do que pode ser dito, pois ela é oniabrangente.



Assim, segundo Gadamer, pode-se dizer que:

 

- a linguagem é, pois, o centro do ser humano, quando considerado no âmbito que só ela consegue preencher: o âmbito da convivência humana, o âmbito do entendimento, do consenso crescente tão indispensável à vida humana como o ar que respiramos. Realmente o homem é o ser que possui linguagem segundo a afirmação de Aristóteles. Tudo que é humano deve poder ser dito entre nós[6]. A partir de tais fatos, conclui-se que a linguagem é o ponto central do ser humano. É a partir dela que o homem se faz presença e possui a capacidade de agir no mundo e interagir com o mesmo. O homem é, de fato, um ser vivo dotado de linguagem.



Referências

 

Disponível em: https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=1252 Acesso em 01/05/2020 às 18 horas.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método II: Complementos e índice. Tradução de Ênio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2002.



[1] GADAMER, 2002. p. 173.

[2] GADAMER, 2002. p. 174.

[3] GADAMER, 2002. p. 176

[4] Idem

[5] GADAMER, 2002. p. 179

[6] GADAMER, 2002. p. 182.

 

 

Cultura e linguagem

 

O homem é um ser que fala. A palavra se encontra no limiar do universo humano, pois caracteriza fundamentalmente o homem e o distingue do animal. A diferença entre a linguagem humana e a do animal está no fato de que este não conhece o símbolo, mas somente o índice. O índice está relacionado de forma fixa e única com uma coisa que se refere. Por exemplo, as frases com que adestramos o cachorro devem ser sempre as mesmas, pois são índices, isto é, indicam alguma coisa muito específica. Assim, a linguagem animal visa à adaptação a situação concreta, enquanto a linguagem humana intervém como uma forma abstrata que distancia o homem da experiência vivida, tornando o capaz de reorganizar numa outra totalidade e lhe dar novo sentido. É por isso que podemos dizer que, mesmo quando o animal consegue resolver problemas, sua inteligência é ainda concreta. Já o homem, pelo poder do símbolo, tem uma inteligência abstrata. Portanto, se não tem oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, o homem torna-se incapaz de compreender e agir sobre o mundo que o cerca.

 

 

 

 

RESPONDER (3 ANO)

 

ATD – TIPO – 2 (NÚCLEO ESPECÍFICO)



Leitura e Análise de Texto:

 

1 – Na perspectiva do Texto, defina Preconceito e Filosofia. Apresente exemplos.

2 – Expliquei do ponto de vista da Filosofia da Natureza / Cosmologia e Filosofia Antropológica: o pensamento e importância de Tales de Mileto e Sócrates.

3 – Quais os reais problemas éticos, políticos e sociais combatidos por Sócrates e os motivos da condenação de Sócrates – [apologia.].

4 – Todos os Homens são Filósofos? Justifique.

5 – Quais são as contribuições do pensamento filosófico na consolidação da cidadania.  

6 – Como o estudo da Filosofia pode ajudar no combate ao covid-19. Justifique.

7 – Defina senso comum e bom senso na perspectiva de Gramsci

8 – Discunta Hermeneuticamente o texto “Homem e Linguagem de Gadamer.”


OS ESTUDANTES DEVERÃO:

-ler e analisar todos os textos; 
-realizar resumos ou mapa de conceitos; 
- ESCOLA;
- escrever nome completo;
- informar número respectivo da chamada;
- turma/ série;
-disciplina/ docente;
-escrever em folha de almaço ou realizar no editor de texto;
-na folha de almaço, anexar as fotos em forma (JPG);
- editor de texto - em forma de anexo;

ENVIAR O BLOCO DE ATIVIDADES PARA O E-MAILapollovsdioniso@gmail.com

 

 


Nenhum comentário: